We Are Who We Are dá uma aula em seu 2º episódio
Enquanto o primeiro episódio chegou sorrateiro, dando indícios ao público do que a série iria falar sobre, o segundo já chegou com o pé na porta. Em apenas 50 minutos, We Are Who We Are conseguiu abordar uma diversidade de assuntos imporantes e necessários de forma sutil, porém, exatamente aquilo que o seriado precisava expor. Diferente do primeiro capítulo, todo voltado para Fraser e sua família, o segundo foca totalmente na história de Caitlin (Jordan Kristine Seamón), que irá dividir o protagonismo com o personagem de Jack Dylan Grazer. Ainda sabemos pouco da história do menino, mas o segundo capítulo conseguiu nos mostrar a complexidade e o ponto de vista da menina, filha de uma importante membro da comunidade militar, cujos problemas são simplesmente ignorados pela mãe.
O episódio
Muitos são os assuntos abordados apenas nos primeiros minutos. De forma genial, Luca Guadagnino nos traz algumas das cenas mostradas no primeiro episódio, mas dessa vez, sob o ponto de visto de Caitlin. A cena da praia, onde Fraser foi humilhado pelos amigos da menina, ela estava enfrentando um problema muito maior. Rodeada de pessoas da sua idade, ela é obrigada a lidar com a pressão da primeira vez, imposta pela sociedade, pela melhor amiga e principalmente pelo namorado, disposto a “resolver as coisas” ali mesmo. Por que precisamos ter a primeira relação sexual logo e não apenas quando nos sentimos confortáveis para?
É evidente o quão pressionada Caitlin fica, o que fica ainda mais claro quando ela tem sua primeira menstruação logo ali, na frente de todos. O que para muitas mulheres é um transtorno mensal, para ela foi a melhor coisa do mundo. Ficar menstruada é oficialmente passar do período de menina para mulher, pronta para começar a vida adulta. Mas afinal, é isso mesmo? Sabemos que há muito além do que simplesmente usar absorventes para definir uma menina, uma jovem e uma mulher. A cabeça e a maturidade são o principal determinante aqui e é visível o quão despreparada para a vida Caitlin está. A cena seguinte, onde ela tenta “resolver” o problema com o namorado no corredor da escola, evidencia a pressão da sociedade em cima dos jovens, tanto homens quanto mulheres.
Em um ponto simples, mas muito imporante do episódio, vemos Caitlin ouvindo um dos adolescentes da base militar descrevendo um estupro e rindo disso, tratando a menina em questão como um simples objeto. Caitlin escuta a conversa e nada faz, o que pode causar uma certa revolta no público. Como mulher, devemos sempre pensar na dificuldade em se impor e também na falta de apoio. O perigo é evidente ali e mesmo que Caitlin ousasse falar algo, provavelmente seria ofendida, humilhada e até mesmo abusada pelos então estupradores ali presente. A sociedade está tão acostumada a ouvir homens tratarem mulheres dessa forma, que nada parece assustar ou surpreender.
- John David Washington comenta sobre possibilidade de TENET ganhar sequência
- Jordan Fisher estrelará adaptação de ‘Hello, Goodbye And Everything In Between’
- TODOS os segredos escondidos no trailer de Wandavision (Disney+)
- Ralph Macchio comenta sobre a terceira temporada de Cobra Kai
- Eddie Redmayne confirma retorno as filmagens de Animais Fantásticos
- 10 motivos para assistir Pátria, grande destaque da HBO
Trump
Outro imporante ponto abordado no episódio diz respeito a questões políticas. O pai de Caitlin ganha um dinheiro extra ao comercializar combustível de forma ilegal dentro da base militar. Ele sai toda manhã bem cedo e retorna ainda no nascer do sol. Caitlin vê ali uma oportunidade de aventura e adrenalina, mas também uma forma de ir contra aquilo que sua mãe defende, o correto. É ainda mais irônico presenciar a cena seguinte, onde pai e filha usam com orgulho um boné de campanha de Donald Trump. Na Itália, eles são negros imigrantes e sofrem preconceito por isso. Quando pensamos na campanha de Trump, evidenciada na série, onde o presidente dos Estados Unidos deixa claro sua repulsa por imigrantes, termos pai e filha defendendo-o é algo muito importante de ser falado. Assim como muitos “cegos”, que apoiam líderes ditadores e intolerantes, eles defendem um homem que vai contra tudo aquilo que são e praticam. Irônico, não?
Ainda falando em ironias, a hierarquia dentro da base militar é outro ponto alto do episódio. Estamos acostumados a ver o nacionalismo exacerbado norte-americano, sempre em maior número e com um poderio superior a todos. Quando estão na festa da praia, os amigos de Caitlin, negros e norte-americanos, sofrem o bullying dos italianos, brancos e em maior número no lugar. Ter uma produção que fale dessa hegemonia reversa é fundamental diante de um cenário hollywoodiano nacionalista. Mais um indício do quão brilhante e incrível é o trabalho de Luca Guadagnino.
We Are Who We Are é exibida semanalmente na HBO.