Utopia é exótica, mas chega ao mundo no momento certo

O novo normal envolvendo produções que falam sobre pandemias já começou. Enquanto algumas séries já estão abordando o assunto Coronavírus, como This is Us e Grey’s Anatomy, outras estão saindo pela tangente. Esse é o caso de Utopia, um antigo projeto de Gillian Flynn (Garota Exemplar) que  finalmente saiu do papel. E o momento não poderia ser melhor, afinal, o seriado falo sobre uma epidemia viral que assola principalmente as crianças. O momento para o lançamento foi oportuno, mas a produção não consegue seguir um ritmo sério e acaba usando a pandemia para desenvolver uma temática. Utopia traz uma boa dose de ficção, misturada com histórias em quadrinhos repletas de sangue, reviravoltas e assassinatos.

A série

A trama gira em torno de uma HQ, cujo título dá nome a produção. Os fãs ferrenhos de Utopia sonham com o dia em que uma continuação chegará ao mercado, mesmo que de forma obscura e extremamente secreta. O protagonismo fica a cargo de um grupo de jovens nerds obcecados pela revista, principalmente por acreditarem que ela traz em suas páginas uma previsão do futuro. Utopia fala de doenças que aflingiram o mundo real e a nova edição pode trazer a nova doença que chegará ao mundo em forma de pandemia. Quando a epidemia mortal chega, eles sabem que precisam encontrar uma forma de evitar ainda mais mortes. O que começa como uma diversão logo se revela um caminho mortal, que envolve ainda o médico Michael Stearns (Rainn Wilson) e o mega-empresário Kevin Christie (John Cusack).

Usando eventos do mundo real, como o desespero da população diante da morte de crianças, a trama de Utopia começa da melhor forma possível. Nos primeiros episódios, nos vemos entrelaçados na história e curiosos para saber o que irá acontecer. O grupo de amigos têm um quê de Stranger Things e Os Goonies, mas isso logo se perde. Quando a protagonista da HQ, Jessica Hyde (Sasha Lane) se revela uma personagem real, o roteiro sofre uma grande reviravolta e é aí que tudo vai por água abaixo. Lane não foi feliz em seu papel como Jessica, principalmente por carregar tamanha importância nas costas. Sua personagem deveria ser uma mulher guerreira, disposta a tudo para descobrir seu passado. O que vemos em tela, porém, é uma jovem adulta obcecada e sem graça, sem qualquer expressão e principalmente, apática. 

Os personagens 

A equipe formada por Jessica e os jovens nerds, Wilson Wilson (Desmin Borges), Sam (Jessica Rothe), Ian (Dan Byrd), Becky (Ashleigh LaThrop) e Grant (Javon Walton) não consegue encaixar seus participantes em um grupo coeso. A sensação de companheirismo e amizade logo desaparece, ao passo que a história se desenvolve, e não sabemos mais quem é quem ali dentro.  Ao momento em que a tensão explode e a história vira um salve-se quem puder, temos uma série de pessoas, individualmente bem desenvolvidas, cuja história vira segundo plano diante do cenário. A doença muitas vezes é deixada de lado diante da obsessão de Jessica ou do plano psicótico de Christie. O que poderia ser uma ótima crítica em relação ao monopólio de empresas de saúde vira uma perseguição de gato e rato mal desenvolvida.  

Utopia

A série promete uma trama inteligente, de mistérios e reviravoltas, mas se fundamenta apenas em cenas de ação com muito sangue e mortes bizarras. O roteiro tenta criar uma relação de herói e vilão entre os jovens e o dono do laboratório, mas fica confuso a partir do momento em que conhecemos A Casa. Afinal, o que é aquilo, quem são aquelas pessoas? Muitas perguntas deixadas em aberto para uma possível segunda temporada (ainda não confirmada). 

Utopia não é uma série ruim, longe disso, mas joga fora todas as oportunidades que têm de se tornar uma produção memorável.  

A série está disponível no Amazon Prime Video. 

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