Stranger Things e a saúde mental

Não é segredo para ninguém que a estreia da quarta temporada de STRANGER THINGS é uma das mais aguardadas de todos os tempos. Afinal foram quase três anos de espera, muito por conta dos eventos pandêmicos que passamos, mas também, como os próprios irmãos Duffer falaram, foi a maior e mais complexa de todas as temporadas. Dividida em duas partes, a primeira que estreia hoje, 27 de maio na Netflix, contará com a maior parte da temporada, sete dos nove episódios; já a segunda parte que estreia no dia 1º de julho, contará com dois, sendo o nono com duração aproximada de 2h30. Nós do Coxinha Nerd, já conferimos os sete primeiros e podemos dizer -a priori- que é tudo que a gente imaginava e mais um pouco. Quase nenhuma, das teorias que fiz e que li, chegaram perto da grandiosidade e das reviravoltas que os Duffer nos entregaram. Stranger Things retorna mais madura, mais pesada, mais sangrenta, com ainda mais qualidade técnica e mergulhando de cabeça no tema da saúde mental. A quarta temporada nos transporta para onde tudo começou, como um lembrete de que “coisas estranhas” ainda precisam ser explicadas… Novos grupos e relações se formam, mas algumas se mantém ainda mais fortes. Contudo, algo me chamou a atenção neste novo ano do show que nunca havia me passado, a maneira como os Duffer se utilizam de inúmeras metáforas para abordar a saúde mental. O laboratório Hawkins com experimentos mentais, os poderes da Eleven relacionados com a mente… Os monstros estão diretamente relacionados as nossas cabeças e até mesmo, alguns títulos utilizados como referência são metáforas para debater saúde mental. E se antes, isso era só algo que estava ali mas que não era mencionado, a quarta temporada mergulha de cabeça, sem precisar sequer verbalizar, pois os elementos narrativos falam por si só. Contextualizando, nesta nova leva de episódios, somos apresentados a um novo vilão, o Vecna. Vecna é um ser que habita o mundo invertido, não por escolha, mas porque em algum momento foi banido para lá, e  acabou se  “fundindo” ao lugar como uma espécie de simbiose.  Nesse contexto, passei a ver o Mundo Invertido com outro olhar. Se antes ele era só uma representação diferente do nosso mundo, aqui para mim, ele é o nada. Tudo bem Juliana, mas como assim, o Nada? E é ai que vem a referência de A HISTÓRIA SEM FIM. Você bem lembra a icônica cena de Dustin e Suzie entoando NeverEnding Story na temporada 3. Certo? Pois bem, aqui o filme é novamente mencionado, mas agora de uma maneira mais profunda. Argyle em conversa com os meninos [Jonathan, Mike e Will] menciona o clássico de 84, e fala como o Nada sempre o assustou. O nada em A história sem fim, nada mais é que o sentimento que temos de não fazer parte, de não existir. Aquela dor que nos consome, e que não conseguimos entender porque a sentimos. Diagnosticada pelos psicólogos como depressão. Então digamos que o mundo invertido seja a representação metafórica do nada em Stranger Things, e o Vecna seja o mal que nos faz sucumbir. O Vecna é aquilo que nos diz para desistir, que nos faz esquecer os momentos bons e achar que só há escuridão dentro de nós… E não nos resta mais nada aqui nesse mundo. Sim, é pesado mesmo… Eu mesma tive inúmeros gatilhos nessa temporada e já os alerto aqui. Por mais que a série não verbalize isso, os elementos, as referências estão ali para quem quiser ir além das entrelinhas. O pilar principal dessa narrativa é a Max. Ela perdeu seu irmão Billy, seu padrasto foi embora, e sua mãe agora é alcoolista. Max se isolou em seu mundo, se afastou de todos… a vítima perfeita para habitar o nada com o Vecna. Certo? Antes de Max, tivemos a Chrissy e o Fred. Ambos com traumas e passando por conflitos internos. Todos sucumbiram ao Vecna. Max conseguiu sobreviver, pois ao redor dela existiam pessoas que a enxergavam, mesmo quando ela mesma não queria se enxergar. Pessoas que a viam como ela era e o quanto ainda tinha para viver.  O quarto episódio, QUERIDO BILLY, apresenta uma das cenas mais emocionantes, e relevantes e que contextualiza bem tudo que expressei nesse texto, a necessidade de se enxergar a luz em meio a escuridão. Não é fácil, não é simples, muitas das vezes nem nós mesmos achamos que merecemos, mas ela está lá se nos permitirmos... O indivíduo precisa ser lembrado a todo tempo e se sentir inserido e parte de um todo que o acolhe. E se você acha que as representações terminaram, Não… Os Duffers nos deram um lembrete de que não é somente os que vivem em seus casulos que estão sofrendo. Muitas das vezes, aquele valentão, se utiliza de uma máscara para camuflar sentimentos, e no show Patrick é essa personificação. Obviamente que o roteiro não precisou explicitar o que cada um estava passando para que pudéssemos entender a mensagem, as camadas, não foi necessário criar uma atmosfera para compreender o que o Vecna representava. Contudo eu enalteço a escolha de roteiro em abordar o tema da maneira que foi. E espero que acenda uma luz de alerta e toque fundo nos corações de quem precisa… E que essas pessoas possam se lembrar de ouvir a música que as salva.

A Parte 1 da quarta temporada de Stranger Things já está disponível, a segunda chega em 01 de julho, na Netflix!

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