O Legado de Júpiter diverte, mas se perde nos clichês

Uma das maiores novidades desta semana na Netflix é O Legado de Júpiter, produção inspirada na HQ de mesmo nome lançada em 2013. Escrita por Mark Millar e Frank Quitely, as HQs foram a base da nova série da Netflix, que traz não apenas um grande elenco, mas uma visão dos heróis nunca vista antes. Seguindo os passos de outras produções de heróis que fogem do tradicional, Millar buscou também se inspirar em Kick-Ass e Os Supremos, produções nais quais ele também esteve envolvido.

O objetivo de O Legado de Júpiter, assim como The Boys, da Amazon, é desmistificar a simbologia do herói como intocado e perfeito, aquele que todos devem admirar de forma cega. Diferente da produção da Amazon, porém, O Legado de Júpiter nos remete aos tempos de Power Ranger, com trajes bonitos e cenas de luta pífias. Ao final, o que poderia ser uma grande produção do gênero, revela-se decepcionante e boba.

O Legado de Júpiter não é uma série única e após assistir a primeira temporada, temos a sensação de que os oito capítulos foram apenas introdução para o futuro. A segunda temporada ainda não foi confirmada, o que pode se revelar um grande tiro no pé de Millar.

A história é voltada para o personagem Utópico (Josh Duhammel), que recebeu os poderes e o legado de Júpiter (a versão romana de Zeus) para liderar um grupo de heróis na Terra. A esse grupo foi dado o título de União da Justiça e como vemos logo nos primeiros capítulos, pequenos atritos começam a surgir entre os membros originais do grupo. A série demora a contar a origem dos poderes e quando o faz, cria uma aventura fantasiosa no estilo Viagem ao Centro da Terra. Os heróis adquirem seus poderes ao explorar uma ilha, mas diferente do que geralmente vemos, tais habilidades são passadas de geração em geração.

Como o título já diz, a série fala sobre legado e sobre a pressão em ser o filho de um super herói. A crítica pode fazer um paralelo a histórias reais, onde filhos de grandes esportistas são esperados como igualmente bons ou até superiores aos pais no esporte. Mais uma vez a série se perde. Millar consegue explorar a diferença entre cada geração em seus livros, mas na série não funciona e o que temos são disputas internas rasas e superficiais. Todos os diálogos entre Sheldon e Brandon, por exemplo, parecem ter saído de um script pronto que passava em uma tela atrás dos atores.

Por se tratar de uma série de heróis, cenas de ação e luta são esperadas…e acontecem. O problema surge no momento em que cada momento da disputa traz o maior estilo Power Ranger possível, sem contato físico, com ferimentos absurdos e cabeças explodindo. Quando alguma sequência começa a se destacar, movimentos em câmera lenta chegam para acabar com o clima e trazer algo ainda mais bobo para o público.

A culpa do fiasco de O Legado de Júpiter não deve ser apontada ao elenco, que tenta a todo custo entregar uma boa produção. Leslie Bibb, Ben Daniels, Elena KampourisIan QuinlanAnna Akana, Tenika Davis e Andrew Horton procuram seguir o roteiro e o fazem bem individualmente. Quando colocados em cenas conjuntas, porém, os diálogos são péssimos e com uma emoção forçada. A série tenta a todo custo ser uma produção no estilo desleixado dos heróis, mas acaba se prendendo em amarras que a tornam infantil.

Caso a segunda temporada seja confirmada, só nos resta esperar por grandes melhoras.

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