Diretora da Netflix comenta relação com fãs brasileiros

Durante o Tudum 2023, evento global da Netflix, a diretora de marketing do streaming, Bianca Rosenberg, comentou sobre a relação da empresa com os fãs.

“O Tudum veio da vontade de ficar ainda mais próximo dos fãs e proporcionar a eles momentos especiais junto às séries e filmes que mais gostam. A Netflix entende a cultura do fã como algo participativo; ela não só estimula essa expressão como também participa dela. O Tudum nada mais é do que a materialização desta participação e da relação com os fãs.” – disse Bianca Rosenberg, Diretora Sênior de Marketing da Netflix com exclusividade ao Coxinha Nerd.

Falar de fã é sempre uma mistura de muitas emoções. Para começar, somos fãs por aqui. Em 2011, quando decidimos transformar nossa paixão pessoal em trabalho, jamais imaginaríamos a cadeia de eventos aleatórios (e igualmente sensacionais) que fariam parte de nossas vidas. Até hoje, em algumas situações bem específicas, temos a decência emocional de fazer uma pequena pausa para dialogar com nossa mente e coração.

E isso aconteceu recentemente, durante o TUDUM, evento global da Netflix para anúncios de seus próximos lançamentos.

Me vi sentada em uma mesa com Chris Hemsworth e o diretor de seu novo filme Resgate 2, Sam Hargrave, por volta das 13h de uma quinta feira friorenta em São Paulo. Ali, naquela oportunidade específica, eu poderia direcionar algumas perguntas sobre o novo projeto deles na Netflix. Mas, sendo sincera, eu só conseguia pensar: “que privilégio gostoso esse de poder ser respeitada pelo meu trabalho e ainda conquistar momentos especiais para o coração de fã que sempre esteve comigo”.

Claro que fiz as perguntas e desempenhei meu papel, mas os meus olhos brilhavam. Minha mente ia longe e eu só conseguia desbravar a maravilhosidade do sentimento de ser profissional em consequência do meu lado fã e fã em um momento extremamente profissional. A balança equilibrou naquele instante. Tudo fez sentido.

Talvez seja esse o sentimento da própria Netflix, afinal, ao abrir as portas do auditório do Parque Ibirapuera em São Paulo, para milhares de fãs emocionados. Uma mistura de realização, profissionalismo e equilíbrio.

Para Bianca, o primeiro Tudum no Brasil em 2020, definiu o destino do evento. “O resultado foi tão positivo para a relação com os fãs, que a gente terminou o evento sabendo que ainda havia muito mais por vir.”

Durante a pandemia, a Netflix continuou trabalhando para manter viva a paixão dos fãs por seus conteúdos. Mas foi somente em 2021, que a empresa oficializou o Tudum como evento global.

“Na segunda edição do Tudum, em setembro de 2020, optamos por fazer uma live no Youtube da Netflix Brasil e também distribuir gratuitamente um almanaque inédito com várias atividades relacionadas às produções e talentos da Netflix. Foi a forma que encontramos de estar mais perto fisicamente das pessoas, naquele momento difícil de isolamento.”

Volto à minha própria reflexão sobre como é difícil equilibrar uma relação de paixão e prestação de serviços. Ainda mais quando se trata de uma audiência declarada como “a maior do mundo”. Todos os dias, trabalhando com criação de conteúdo, me vejo gerenciando esses pratinhos do empreendedorismo. A verdade é que ninguém fala sobre a parte dolorida. Pagar contas, contratar pessoas qualificadas e continuar sendo um fã verdadeiramente apaixonado.

Uma empresa custa caro. Do empreendedorismo solitário, ao gerenciamento de uma multinacional, a conta precisa bater. É difícil você voltar atrás de “acordos firmados” quando, do outro lado da mesa, estão aqueles que dizem “te amar incondicionalmente”, os fãs. É difícil você estar feliz com pequenos passos e ter que argumentar sobre mudanças estratégicas – que nem sempre são divertidas e emocionantes.

Se o fã brasileiro é o mais engajado, o mais intenso, que cria apelidos fofos como “Netinha” e um relacionamento íntimo nas redes sociais, ele também pode ser o pior vilão, dependendo da situação.

Por exemplo, essa semana eu fiz um post no Instagram, sobre o conteúdo dessa matéria. Nos comentários, choviam cobranças sobre a mudança da Netflix em relação ao valor cobrado nas assinaturas. A paixão de um fã tem sempre dois lados e lidar com esses altos e baixos da relação corporativa versus intimidade criada em redes sociais, deve ser o maior desafio das empresas modernas.

“O Brasil é essa mistura de tudo, essa energia forte e positiva que abraça pessoas do mundo todo. Isso está muito marcado na forma como os fãs brasileiros se relacionam com a gente, com a intimidade criada, com essa troca quase pessoal que não fica só aqui. Nesse sentido, a decisão de fazer aqui a primeira edição física do Tudum global foi muito natural: temos os melhores fãs do mundo todo.”

Concordo com Bianca, somos os melhores fãs do mundo. Não temos vergonha de gritar, chorar e encher as redes sociais dos artistas com o emocionado “please come to Brazil” [por favor, venha para o Brasil].

Mas também somos um país em eterno desenvolvimento, que ainda enfrenta uma enorme desigualdade social, econômica e educacional. A realidade impacta diretamente na forma com que nos relacionamos com dinheiro e informação.

No fim das contas, o sucesso da Netflix não está apenas na realização de um super evento gratuito para fãs, recheado de talentos internacionais, pipoca e ativações incríveis.

O sucesso da Netflix está em gerenciar o elogio e a crítica do fã/assinante com o mesmo empenho. Se o canal de intimidade vira uma estratégia de mão dupla, a empresa ganha em todos os sentidos.

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