Uma entrevista com Matthew Rhys, protagonista de Perry Mason

Perry Mason, produção original HBO que vai ao ar todos os domingos, às 22h, traz a história por trás do detetive mais famoso da ficção norte-americana. O personagem do escritor Erle Stanley Gardner, vivido na série por Matthew Rhys, surgiu em 1933 como protagonista do livro O Caso das Garras de Veludo. O nome do personagem foi inspirado na infância de seu criador, que lia uma revista publicada pela The Perry Mason Company. Após o primeiro livro, Gardner publicou uma longa série de mais de 80 romances e contos policiais baseados no investigador.

Quase um século depois, Perry Mason segue como um mito. Uma das características que contribui para o sucesso de suas aventuras é sua habilidade de resolver casos complexos, provando a inocência de seus clientes, quase todos acusados injustamente de assassinato. Outro atributo clássico é sua preferência por ocorrências inusitadas, em que é movido pela curiosidade. Muitas vezes, o detetive chega a financiar suas próprias investigações.

A nova série da HBO, produzida por Robert Downey Jr., mostra o início da trajetória de Mason na década de 1930. Os episódios semanais se concentram em seus primeiros anos de carreira, procurando se estabelecer como detetive particular em Los Angeles. Enquanto o resto dos Estados Unidos enfrentava o impacto da Grande Depressão, a cidade encontrava-se no auge, vibrante graças ao petróleo, aos Jogos Olímpicos, ao cinema e ao fervor religioso.

Em entrevista feita em junho deste ano, Rhys aproveitou para falar um pouco sobre seu personagem.

Quando você ouviu falar desta série pela primeira vez e o que pensou inicialmente?

Foi em setembro de 2018, quando o meu empresário me deixou uma mensagem. Eu fiquei pensando por que fariam um remake de Perry Mason. Achei seria uma bobagem fazer isso. Mas, quando o meu empresário me disse que era a HBO, eu me dei conta de que não era um remake, era uma produção com a marca da HBO. Ao me reunir com a Susan Downey e os roteiristas, rapidamente entendi que seria mais uma reinterpretação do que um remake.

Quem é o seu Perry Mason e o que o torna tão interessante?

Acontece muita coisa com o Mason. Ele é uma pessoa muito sofrida, que lutou na Primeira Guerra Mundial. É um veterano que está enfrentando uma série de problemas pessoais quando o conhecemos, mas tem uma característica que eu acho que se deve às injustiças da guerra. Ele não suporta a injustiça. Ele não consegue ficar de braços cruzados. Diante das injustiças ele tem um norte a seguir. Eu não estava interessado em alguém que estivesse a serviço da justiça usando cuecas por cima de um collant, como os super-heróis. Eu queria um ser humano completo e falível.

A série de TV com Perry Mason nos anos 60 e o que você queria evitar ao retratá-lo?

Eu tenho uma vaga lembrança. Era o tipo de série que os nossos avós viam. Eu me lembro desse senso de justiça, de fazer as coisas certas. Eu não queria interpretar um personagem simplificado, nem um super-herói. O que me interessava, e discuti isso com os roteiristas durante o desenvolvimento dos roteiros, era a complexidade da justiça. Eu não queria nada simples nem fácil de atingir. Estava interessado nas áreas cinzentas e no grau de dificuldade, ao invés da justiça milagrosamente apresentada no final.

Como você se tornou produtor executivo e o que isso significou?

Para mim foi um crescimento, tinha que levar mais a sério! Não, eu levo a sério, sim. Na verdade, foi uma gentileza da HBO e da Team Downey – o objetivo era que houvesse muita colaboração. Eles me disseram que queriam que eu construísse o personagem e que também fosse produtor para que tivesse participação na história, na escolha do elenco, da equipe e de tudo que era importante para eles. Eles foram incrivelmente generosos e inclusivos.

Que cenas se tornaram os maiores desafios da filmagem?

Eu achei as cenas de tribunal um grande desafio. Era um privilegio não ter o Perry Mason pronto, em seu princípio como advogado de defesa, e sim acompanhar seu desenvolvimento. Então, eu tive direito a esse período de carência para firmar as bases [do personagem] e descobrir o momento de explorar os aspectos mais dramáticos do tribunal, em que os advogados estão exercendo seus papéis perante o júri.

Era como se houvessem dois públicos: os jurados e os telespectadores na TV, então você vai entendendo quando intensificar o tom e para quem. Encontrar o tom nessas cenas no tribunal foi o maior desafio para mim e, portanto, uma grande realização. Já vimos defesas icônicas em tribunais, como os grandes momentos do personagem Atticus Finch em O Sol É para Todos ou a interpretação de Tom Cruise em Questão de Honra. Você vê essas cenas e pensa: “eu tenho que conseguir”.

Qual foi o melhor momento no set?

Foi ver a Tatiana Maslany [a Irmã Alice] fazer um elogio fúnebre e levar a congregação a um frenesi. A HBO faz essas produções de um modo altamente prazeroso para um ator. Há centenas de figurantes, todos caracterizados e os sets são incríveis, então é difícil não acreditar que você está naquele mundo. Esse trabalho é feito por você e quase nada depende da sua imaginação.

Perry Mason, produção original HBO, vai ao ar todos os domingos, às 22h.

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