Os (vários) acertos da Marvel com o Doutor Estranho!
Porém, antes de começar a elogiar e destacar os pontos fortes do filme, eu preciso me referir ao elefante que surge na sala toda vez que um novo filme da Marvel entra em cartaz: seu vilão. Não é nenhuma novidade que o universo cinematográfico Marvel está recheado de vilões fracos e sem inspiração. Vilões sem carisma ou propósito, que só servem para se opor ao herói naquele momento e que, depois de derrotado, é relegado ao esquecimento.
Dr. Estranho não é uma exceção. Quando eu comecei a assistir ao filme eu esperava que fosse diferente. Eu realmente queria sentir algum tipo de emoção por aquele vilão. Principalmente depois da cena de abertura do filme, eu queria que aquele vilão fosse marcante e fugisse da forma que todos os vilões da Marvel parecem ter saído.
Mas esse não é o caso e, quando o filme chega ao fim, Kaecilius (e eu precisei pesquisar o nome do vilão no Google, de tão esquecível que ele é), se torna apenas mais um vilão descartável dentre muitos.
Agora que tirei isso do caminho, eu posso seguir em frente e tecer meus elogios a respeito desse filme que eu adorei assistir. Segue a lista dos 9 pontos me que a Marvel acertou em cheio (com um enorme esforço para não conter spoilers).
#9 – O (quase inexistente) Romance
Depois dos vilões fracos, o segundo maior defeito dos filmes da Marvel é a forma como eles tratam suas personagens femininas. Em os Vingadores, temos apenas a Viúva Negra como personagem feminina e ela não só ainda não teve um filme solo, como em a Era de Ultron, ela foi rebaixada à posto de interesse romântico (de um romance extremamente tosco) do Hulk.
Apesar da falta de heroínas femininas, o Universo Cinematográfico Marvel conta com várias personagens mulheres que, em sua maioria, são os interesses românticos de seus respectivos heróis. E, nesse aspecto, elas não são tratadas muito melhor do que a Scarlett Johansson.
Christine, a personagem interpretada por Rachel Mc Adams em Dr. Estranho, é bem diferente. Ela é uma profissional competente que tem a sua própria vida e que, apesar de claramente se importar com Stephen Strange, ela mostra não ter paciência para as suas peculiaridades e não tem medo de mandá-lo para aquele lugar.
Além disso, Dr. Estranho não se foca no romance. Logo de início o filme deixa claro que há um passado entre os dois, e que existem sentimentos que não foram ditos, mas para por aí. O romance não fica sendo explorado em excesso durante o transcorrer de três filme e, em nenhum momento, Christine se torna uma donzela que precisa ser resgatada pelo herói.
Christine Palmer é um sopro de ar fresco e trás ao filme uma boa dose de realidade e “pé-no-chão” necessários em um filme extremamente louco. Ela é o melhor interesse romântico em um filme da Marvel dês de Peggy Carter.
#8 – O Elenco
Não é nenhum segredo que a Marvel encontrou a fórmula mágica para seu elenco dês de que colocou Robert Downey Jr. como o Tony Stark. Dês de então eles têm acertado em cheio na escolha dos atores para interpretar os seus personagens.
Dr. Estranho não é excessão. Benedict Cumberbatch está perfeito como o protagonista. Rachel McAdams está ótima como Christine e Mads Mikkelsen tem um porte ameaçador o suficiente para fazer um vilão decente (apesar de descartável).
#7 – A Vulnerabilidade
Antes de se tornar o Mago Supremo, Stephen Strange era um cirurgião que sofre um acidente de carro que danifica suas mãos e ele se torna incapaz de operar. Em busca de uma cura, ele acaba indo para o oriente, onde descobre a existência de magia e acaba sendo treinado e se torna o Mago Supremo.
Essa é a origem do personagem e eu não considero ela spoiler, pois é a mesma origem dos quadrinhos e você, que está lendo esse post, já deveria saber disso. Não saber disso, a essa altura do campeonato, é o mesmo que não saber que Peter Parker foi picado por uma aranha radioativa (se você não sabia disso, acabei de te dar outro spoiler).
Enfim, Stephen Strange perde o propósito de sua vida e ele luta para reencontrá-lo. Ele está fraco e vulnerável e essa vulnerabilidade é retratada de forma perfeita nesse filme. Shane Black já tentou fazer isso antes em O Homem de Ferro 3, mas a vulnerabilidade lá pareceu forçada demais e, apesar de Tony Stark passar a maior parte do tempo de filme sem a armadura, nunca sentimos que ele estava, de fato, vulnerável.
Com Dr. Estranho é diferente. Ele é um homem que está quebrado e nós sentimos a verdade por trás disso. Ele tem dificuldades para fazer as atividades mais rotineiras sozinho e ele estoura com as pessoas próximas a ele que só querem lhe ajudar. É assim que uma pessoa vulnerável de verdade fica, e eles conseguiram traduzir isso de forma perfeita no filme.
#6 – A Estranheza
O filme não só é a primeira tentativa de trazer a magia para o MCU, como tem o nome do seu protagonista como Dr. Estranho. O filme não poderia deixar de ser, bem… estranho.
A primeira cena do filme já deixa claro que não será um filme de herói como outro qualquer. Nós estamos prestes a embarcar em uma viagem muito louca e, de fato, parece que a gente está olhando para um caleidoscópio bêbado a maior parte do tempo (tanto o caleidoscópio quanto você estão bêbados. Se apenas você estivesse bêbado, não seria tão estranho).
Mas ser apenas estranho não é o suficiente. Estamos cheios de filmes que acabam se perdendo em suas ideias mirabolantes e que perdem todo o sentido (Vide A Origem) e que, por isso, acabam sendo ruins.
Dr. Estranho consegue a façanha de fazer algo novo, ousado e estranho. E ele faz isso criando suas próprias regras e se mantendo fieis e elas até o fim. O universo criado no filme é coerente e ele mantêm-se coerente durante todo o decorrer do filme. Não só isso, ele introduz todas essas novas regras a um universo cinematográfico já existente e, em nenhum momento, ele se torna incoerente.
#5 – O Humor
Esse, na verdade, é um ponto em que o MCU tem sempre acertado em seus filmes. Não é nada novo, mas ainda acho que merece ser mencionado aqui. Dr. Estranho sem a sua boa dose de humor e, como todo bom filme da Marvel, o seu timing é impecável.
Ah! E não posso esquecer da Capa da Levitação! Não vou falar mais nada para não estragar pra vocês.
#4 – Os Efeitos Especiais
Como já mencionei antes, boa parte do filme parece que você está olhando um caleidoscópio bêbado. E é tudo muito bem feito. O cenário gira, as coisas mudam de ângulo de forma indescritível. E assistir tudo em 3D (como foi o meu caso) é um prazer ainda maior. Esse é um dos únicos filmes que eu assisti em que o 3D pareceu fazer a diferença.
Mas, mesmo quando não estamos diante de enormes prédios em GC virando ao avesso ou transformando-se em ondas, tudo ainda é muito bonito de se ver. É evidente o cuidado que colocaram na criação até dos menores feitiços usados pelos personagens. Os escudos de energia, a Capa da Levitação, as armas que eles criam para lutar, tudo é muito bem feito e interage com o mundo em volta com perfeição.
#3 – A Ação
E como tudo é muito bem feito, as cenas de ação são de tirar o fôlego. A presença de magia muda tudo em muitos sentidos e abre toda uma nova dimensão de possibilidades a serem exploradas. Quer alguns exemplos:
Uma perseguição pelas ruas de Nova Iorque onde a gravidade muda de direção repentinamente; uma briga entre os espíritos de dois magos que estão realizando projeção astral e um combate em Hong Kong em que o tempo está indo na direção errada e tudo acontece de trás para frente.
Esses são alguns exemplos de cenas de ações novas, com novas possibilidades que só são possíveis com a adição da magia ao MCU e que foram gravados e forma impecável.
O combate em que ambos estão usando projeção astral foi um dos melhores combates já feitos em filmes de super-heróis, na minha opinião.
#2 – Dormammu
Kaecilius pode ser o principal vilão do filme, mas a verdadeira ameaça é Dormammu, um demônio de outro plano de realidade, cujo principal objetivo é consumir todo o multiverso. Ele quer, mais do que tudo, consumir a terra.
Essa história de criatura mega poderosa e consumidora de realidades me lembrou de dois outros vilões: Galactus e Parallax. Ambos já foram retratados em filmes de super-heróis (Quarteto Fantástico e Lanterna Verde, respectivamente) e ambos foram retratados como enormes nuvens.
Só o fato de Dormammu não ser uma enorme nuvem já é uma vitória na minha concepção. Na verdade, ele tem uma aparência ameaçadora e demonstra seu poder contra Dr. Estranho de diversas maneiras.
#1 – Criatividade Vence o Poder
Uma coisa que me preocupava antes de assistir ao filme era a velocidade com a qual Dr. Estranho se tornaria mago supremo. Nós temos magos que treinam dês de criança e que têm não sei quantos anos de experiência com magia. Como é que Dr. Estranho vai se tornar mais poderoso do que todos eles?
Eu já vi isso em muitos filmes: o protagonista chega e, do nada, se torna superior aos outros personagens que têm anos de experiência. E a justificativa é algo tipo “ele tem o dom”.
Com Dr. Estranho não acontece assim. Ele é o Mago Supremo, mas ele não é o mago mais poderoso do mundo (pelo menos eu acho que não). Na verdade, ele é bem fraco. Ele tem dificuldade em conjurar e manter os mais simples dos feitiços, é retratado de forma extremamente vulnerável e não parece ter certeza do que está fazendo a maior parte do tempo.
E o que faz dele o Mago Supremo? A sua criatividade. Ele sempre lida com os seus obstáculos de forma criativa.
Seja no combate para defender o Sanctum de Nova Iorque, ou na luta quando está realizando projeção astral, Strange saiu vitorioso não por ser mais forte do que seu oponente, mas por que foi mais criativo.
O mesmo pode ser dito a respeito de como ele derrotou Dormammu. Eu estava esperando uma grande batalha entre os dois e me perguntava como um aprendiz de mago poderia vencer de um grande demônio consumidor de mundos. A resposta veio como uma grande e agradável surpresa. Não vou entrar em detalhes para não dar spoilers, mas é o suficiente dizer que a esperteza e a criatividade de Strange, em usar suas magias de forma não-convencional, foi o que venceu o dia.