7 Desejos | Sem muitas novidades, mas vale o ingresso

Com o usual baixo orçamento e a existência de um nicho do público fiel ao gênero, tornou-se frequente que, ao menos uma vez por trimestre, Hollywood aposte em um filme de terror para atrair renda. Esta expectativa certamente aumentou quando Atividade Paranormal, dez anos atrás, fez um lucro altíssimo – a ponto de outros 5 sequências serem lançadas, aproveitando a marca da franquia. É verdade que, em média, os “terrores” lançados anualmente – principalmente por Hollywood – não costumam ser arrebatadores de elogios da crítica e obras primas da sétima arte. Talvez falte capricho em alguns dos filmes mais atuais, cujos roteiros recorrentemente caem facilmente em lugares comuns e repetições sem sal de clichês do gênero. Talvez daí se origine essa visão de decadência sobre o cinema de terror, como se fossem hoje seus anos de crise. Mas é injusto falar que o gênero cinematográfico de George Romero, Dario Argento e Wes Craven se resuma hoje a isso: ano passado, por exemplo, estrearam Boa Noite, Mamãe e A Bruxa, cuja visão autoral e temas provocativos não só lhes esquivaram do senso comum como também renderam fortes elogios da crítica em geral. Além do mais, tivemos “Invasão Zumbi”, que puxa mais para um lado sentimentalista e, sobretudo, é mais uma prova de que a tradição do horror vem sendo honrada pelo cinema asiático – já que na maioria das vezes só se olha para o ocidente. Contudo, 7 Desejos, creio eu, não consegue chegar perto desta sublimidade e, acredito, a tendência é que seja rapidamente esquecido. Ele é decepcionante por diversos fatores: por repetir com muita frieza e sem qualquer originalidade um cinema estandardizado e padronizado – clichês atrás do outro -, por atuações que ficam muito aquém de um nível mínimo de realismo e acabam por cair no cômico tamanha a artificialidade, tramas mal explicadas a ponto de algumas situações da narrativa e das motivações dos personagens serem forçadas e beirarem o espalhafatoso. Clare Shannon é uma garota que, em meio a vida entediante do colegial, tem problemas pelo bullying que sofre e pela fama de “perdedora” que, da sua imagem, se fez no colégio. Sua família passa por uma situação financeira complicada e, ainda, a garota não consegue esquecer a imagem da sua mãe (e a consequente saudade que esta lhe traz, já que ela, a mãe de Clare, se suicidara quando a filha ainda era criança). A lembrança e o suicídio da mãe são, desses fatores listados, aqueles que o filme mais frisa e mais investe uma carga trágica em cima. Eis que, um dia, Clare recebe uma caixa misteriosa e a qual anunciava, em chinês arcaico, que sete desejos seriam concebidos aquele que, à caixa, os pedisse. A medida em que faz os pedidos à caixa, de sua vida tem os muitos problemas apagados e até alguns privilégios obtidos… Porém, um preço sanguinolento é cobrado em troca de cada desejo realizado. Não há nada de muito inventivo ou cativante em 7 Desejos, mesmo se a sinopse soar instigante. O filme se perpetua na constante frieza e insensibilidade pela qual a narrativa é construída e desenrolada. A atuação da atriz protagonista prejudica muito o drama do filme, é verdade – e talvez do elenco todo ninguém se salve -, mas há outras questões muito nítidas que atrapalham demasiadamente 7 Desejos: não haviam alternativas às representações ultra estereotipadas de colegial? E há situações que sim, são muito fortes para serem enfrentadas pela protagonista (a mãe, o bullyng)… porém, há outras, como a vontade de ser a mais popular do colégio e o mal querer da patricinha popular, que são muito fúteis e, porém, são tratadas com a mesma seriedade com a qual as questões realmente sérias o são. Essas esculhambações fazem com que 7 Desejos perca qualquer senso de realismo e caia no caricato. Todos os traços morais, que giram em torno da questão “devo seguir em frente e vitimar alguém em prol da cura de minhas próprias dores?”, são mal trabalhados e perdem espaço em tela para um apelo gráfico do terror: a iluminação baixa, a trilha sonora pulsante e a edição que visa fazer mistério com tudo. E, ainda assim, esse mesmo apelo gráfico e estético do filme é repetitivo, desmedido, clichê, forçado. A fotografia chega a ser cafona com tanto sensacionalismo – enquadramentos afobados, iluminação exagerada – nas cenas de maior suspense. A conclusão disso é que todo o significado que o terror do longa pudesse ter foi reduzido, apenas, à violência gráfica e ao suspense das cenas – estes que, por suas vezes, não ultrapassam de mesma forma uma repetição mecânica e fria do clichê, do formulado. O medo em um filme de terror não se origina apenas do apelo gráfico e do suspense que o precede – anunciando uma visão atordoante e grotesca. Amarrá-lo à narrativa e aos temas que por ventura o filme enfocaria podem fazer dele ainda mais poderoso, uma vez que seria um artifício dramático do filme. Uma vez o escritor inglês Simon Ward, no livro Tudo Sobre Cinema, listou filmes de terror dos anos ’60 que exemplificam muito bem isso: “A Hora do Lobo (1968), de Bergman, filme sobre um relacionamento com elementos de horror, aborda o papel da arte e do artista. (…) O mestre do filme apelativo, Roger Corman, arranjou tempo na decadência e teatralidade de A Máscara Mortal (1964) para discutir a natureza da fé religiosa. (…) As mais interessantes discussões se deram, talvez, nos filmes que enfocavam a sociedade contemporânea. (…) Em O Bebê de Rosemary (1968) é possível interpretá-lo como uma condenação pela década de 1960 dos gananciosos, no espírito da igualdade e das liberdades civis do pós-guerra.” Sem contar, claro, as encenações ultra melodramáticas que, de tão exageradas e cafonas, também acabam por prejudicar o filme. Tudo soa muito artificial e caricato, forçado e desmoderado. Cai em um nível de jocosidade que é insustentável, pois ao invés de sinistro vende algo infantil, grotesco, estapafúrdio.
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