13 Reasons Why entrega sua última e melhor temporada

13 Reasons Why foi, durante muito tempo, acusada errôneamente de romantizar o suicídio, a depressão, o bullying e todos os outros assuntos taxados como polêmicos, que são abordados na série. O sucesso inicial conturbado levou a produção a adicionar a cada início e fim de episódio, uma recomendação e até mesmo ajuda para o público. Abordar assuntos dessa gama pode ser delicado e a solução encontrada ajudou muitos a, enfim, pedir ajuda. Enquanto romantizava algumas questões, 13 Reasons Why foi de vital importância em muitas outras.

Em sua quarta e última temporada, o seriado iniciado em 2017 marcou a despedida de uma pequena era dentro do streaming. Mesmo que por pouco tempo, a história literária de Jay Asher deixou sua marca na atual geração. Desde os primeiros episódios, com o tocar das fitas de Hannah Baker, percebemos estar diante de algo diferente. Brian Yorkey trouxe a importância para lidarmos com os assuntos abordados na série de forma certa, atribuindo sua forma mais orgânica possível. Sim, estamos falando de algo fictício, mas que conta com situações extremamente recorrentes no “mundo real”. E precisávamos falar sobre isso.

A 4ª temporada

Os últimos capítulos da série começam do mesmo ponto em que a terceira temporada nos deixou. O grupo de protagonistas formado por Clay, Zach, Jessica, Tyler, Alex e Ani ainda está lidando com as consequências da morte de Monty. Eles sabem que precisam esconder o segredo da morte de Bryce, mas a chegada de Diego atrapalha os planos. Winston e Estela, irmã de Monty, também se juntam ao jogador de futebol americano na investigação. Enquanto Clay tenta lidar com a solidariedade criada perante a morte de um estuprador, seus amigos buscam justiça por trás da história.

O que aconteceu com Monty serve apenas como pano de fundo para as tramas pessoais de cada protagonista.

Os personagens

Justin acabou de voltar de um período na Reabilitação e busca conquistar a confiança dos Jensen mais uma vez. Jessica não sabe como lidar com a situação do namorado e precisa tomar medidas em relação a segurança da escola. Tyler descobre em Winston um amigo, sem saber sua relação com o menino que o estuprou semanas antes. Zach deposita nas bebidas e drogas toda a frustração que tem com a família e com sua vida pessoal. Alex ainda está descobrindo sua sexualidade e a chegada de Charlie bagunça com seus pensamentos já perturbados pela morte de Bryce.

Mas é sobre Clay que 13 Reasons Why busca falar em sua última temporada. O menino está mais estressado do que nunca e o fato de enxergar os fantasmas do passado não lhe ajuda. Magoado e traumatizado com todas as mortes que o cercam, Clay vive diariamente em uma busca psicótica por sua paz. O surgimento de um vigilante pela morte de Monty não contribui e ele passa a temporada atormentado pela culpa de saber o que realmente aconteceu com o garoto.

A série

A premissa da quarta temporada não difere muito dos episódios anteriores. O colégio do Ensino Médio de Liberty continua se mostrando uma verdadeira selva, com problemas que vão muito além de notas ruins ou aplicações para faculdades. O que acontece ali faz qualquer instituição de ensino parecer um paraíso, levando muitos a considerar apenas o caráter fictício da produção. Todo um cenário trágico é criado, reunindo os problemas pessoais de cada um em um único lugar.

Tudo acontece entre os corredores do colégio, marcados por detectores de metal e simulações de tiroteio bizarras. Para nós brasileiros, o ensaio de um tiroteio dentro de uma escola pode parecer desnecessário. Será? Ao olharmos acontecimentos recentes, como o Massacre de Suzano, em São Paulo, ensinar os alunos como proceder em uma situação de desespero desse tipo se mostra extremamente necessário. Estamos realmente prontos para lidar com todo o trauma desencadeado pelos barulhos de uma arma?

Alex

13 Reasons Why volta a lidar com “assuntos polêmicos”… ou devemos dizer necessários? A descoberta da sexualidade, abordada na personagem de Michele Selene Ang ainda na primeira temporada, volta a ser uma pauta importante a ser debatida. Alex está confuso com tudo o que aconteceu em sua vida desde os primeiros episódios e descobre na companhia de Charlie algo novo. Enfrentar o maior desafio, o de assumir sua sexualidade , mesmo que todos a sua volta pareçam aceitar muito bem e o desfecho seja digno de um conto de fadas da Disney, não é fácil. Estamos acostumados a ver a não aceitação da sociedade à diversidade, mas e quanto a aceitar a si próprio?

Jessica e Tyler

Jessica e Tyler conseguem finalmente “respirar” um pouco. Seus personagens foram vítimas de violência sexual nas temporadas anteriores, protagonizando duas das cenas mais pesadas e fortes da série. Nessa quarta, porém, não trazem nenhum trauma adicional, além de todas as marcas que o abuso deixou. O menino ainda é mantido sob cuidados após tentar entrar armado no baile do colégio. Ela por sua vez, precisa lidar com a reabilitação de Justin e o fato de que assumiu uma posição de destaque dentro do comitê do colégio. Suas tramas individuais não trazem grande destaque na quarta temporada, mas sabemos que suas vidas seguem, para sempre, marcadas pelos abusos que sofreram no passado.

Zach

Zach é um personagem que vagueia por todos os episódios desta temporada.. Mesmo que de forma sutil, se é que podemos dizer assim, ele aborda um assunto extremamente recorrente nos jovens: o alcoolismo. Por ter acesso a uma quantidade grande de bebida, dinheiro e carros potentes, Zach anda pela corda bamba entre a vida e a morte ao longo de todos os episódios. Ele usa o alcool para fugir de seus problemas ou até mesmo enfrentá-los de forma mais “corajosa”. É um dos personagens mais humanos da série, mesmo que seu destaque não seja dos maiores.

Justin e Clay

Se precisássemos resumir a última temporada em dois nomes, seriam o de Justin Foley e Clay Jensen. Protagonistas desde a primeira temporada, assumem nessa última seu maior destaque. E aqui precisamos destacar a atuação brilhante de Dylan Minnette e Brandon Flynn. Embora tenham começado na série como dois jovens adolescentes, entregam aqui uma atuação extremamente madura, digna de aplausos. Mesmo que pareça repetitivo e cansativo algumas vezes, pense o que aconteceria com você caso tivesse passado por metade dos traumas que esses dois meninos enfrentaram.

Clay

Clay lida com seu próprio subconsciente, que insiste em sabotá-lo. A morte de Hannah desencadeou uma série de sensações em seu cérebro, que apenas foram catalisadas após a morte de Bryce e Monty. Toda a pressão tradicional do Ensino Médio se mistura com a culpa, com a paranoia, com o medo e com a sensação de impotência. Ele vê tudo o que acontece e percebe não ter mais controle de nada, nem mesmo de seus próprios segredos e pensamentos. Os momentos de catarse de Clay são verdadeiras obras primas dentro do cenário de 13 Reasons Why, onde percebemos o efeito e a influência que a ‘aúde mental pode ter em uma pessoa.

Justin

Foley ganhou duas fitas de Hannah e aquele maldito sorriso enganou a muitos. Desde então, é provável que Justin tenha sido o personagem que mais amadureceu e mudou pelas consequências de seus atos. Um pouco de sua história é contado ao longo de todos os episódios, com destaque para um deles, onde a vida de Justin molda tudo o que vemos na tela. Mas não contaremos qual, afinal, spoilers estragam a experiência de qualquer um.

O personagem de Brandon Flynn reune em si muitos dos problemas individuais de cada personagem. Justin lida com drogas e álcool desde os primeiros episódios e suas idas e vindas da sobriedade destacam o quão difícil é desistir de um vício. Ele também está sofrendo as consequências e a culpa pela morte de Bryce e Hannah, que o atormentam desde então. Justin encontrou uma família dentro da casa dos Jensen, mas o tempo em que viveu na rua ainda o atormenta, principalmente após a volta da mãe. Lidar com problemas de adulto sendo ainda um adolescente do Ensino Médio não é para qualquer um e o desenvolver do personagem de Flynn é especial.

Enfim

Por fim, 13 Reasons Why entrega o final que merecia ter. Embora a série possa parecer cansativa em alguns momentos, ao conhecermos o desfecho percebemos como tudo aquilo foi necessário. Precisávamos conhecer ainda mais a fundo cada personagem. O último episódio é uma verdadeira obra prima, o gran finale após 4 temporadas. Levantemos do sofá para aplaudir, pois a 13 Reasons Why encontrou o melhor final que poderia ter. E sentiremos saudades.

13 Reasons Why já está disponível na Netflix.

LEIA MAIS SOBRE SÉRIES